Uma das associações com as quais colaboro dá apoio a pais em luto. É um trabalho que me tem fascinado mas é claramente uma missão muito dura.
No mês de Dezembro angariámos fundos para a Associação e o meu envolvimento foi grande. Ao longo deste ano tenho recebido o carinho destes pais e mães de coração sofrido e desde o primeiro momento fui acolhida de braços abertos.
Quando souberam da minha gravidez, abraçaram-me e disseram-me palavras bonitas que fizeram com que eu tivesse que engolir os soluços várias vezes.
Uma das mães (de lágrimas nos olhos) disse-me: "Aconteça o que acontecer, agora será sempre sempre Mãe.."
Não lhe consegui responder e abracei-a com força.
Numa das iniciativas da angariação de fundos conheci uma mãe recém chegada à Associação. Quando me dirigi a ela vi que olhava com grande atenção para a minha barriga (já enorme).
Apresentei-me, perguntei-lhe o nome e ela respondeu fazendo-me uma outra pergunta:
"Posso tocar na sua barriga?"
O pedido chegou com um tom tão meigo e terno que lhe sorri abanando a cabeça afirmativamente.
Ela fez uma festa e fechou os olhos enquanto esboçava um pequenino sorriso.
Sentámo-nos e conversámos com naturalidade sobre o que muitos consideram ser impossível falar. Este trabalho exige perguntas difíceis, muito difíceis. Perguntar o nome do filho ou filha que partiu, como aconteceu, há quanto tempo.
O filho desta senhora tinha morrido há um mês e com apenas três dias de idade.
Ao ouvi-la senti as pernas bambas, engoli em seco e o meu coração estremeceu. Por milésimas de segundo deixei de ser a psicóloga e senti-me apenas uma mulher a pouco tempo de abraçar a maternidade..
Elogiei a coragem que teve com tão pouco tempo de luto ter a iniciativa de procurar ajuda. Há pais que demoram anos nesta conquista. Falei-lhe no grupo de apoio, trocámos contactos e ela decidiu naquele momento que começaria a ser acompanhada por nós.
Perguntou-me se eu estaria presente no grupo. Disse-lhe que estou sempre presente mas que iria depender do nascimento da minha bebé. Voltei a ver-lhe um pequenino e envergonhado sorriso e ela então disse-me: "Desculpe há pouco ter pedido para lhe fazer uma festa na barriga!"
Respondi-lhe que agradecia o gesto de carinho e despedimo-nos com um até breve.
Tenho ouvido muitas histórias na Associação. Todas obviamente tristes e tocantes.
Por vezes fico muito angustiada com este trabalho mas tenho aprendido a "desligar" (pelo menos tento) caso contrário daria em louca. Mas nesta mãe eu tenho pensado muito e, pela primeira vez, creio que não vou ser capaz de acompanhar o grupo como sempre faço...
Já tive momentos de muita tensão na minha vida profissional por isso sei o quão importante é conhecermos os nossos limites e aceitar que, por vezes, é preciso parar e aceitar as restrições que o momento nos impõe.
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