27 de novembro de 2014

Gentileza

O meu carro tem via verde por isso passar nas portagens é sempre uma coisa muito impessoal.
No projecto em que estou envolvida as deslocações são pagas pelo que agora na portagem há paragem obrigatória.
Saio sempre muito cedo de casa e ainda vou meio a dormir, mas dá-me um gosto enorme cumprimentar os portageiros com um grande "BOM DIA" e com um sorriso caloroso. 
Quase diariamente recebo um bom dia fraquinho, acompanhado do talão e olhe lá!

Hoje porém aconteceu uma coisa gira.
Depois de uma noite mal dormida, ainda meio ensonada e com a chuva como companheira de viagem foi a minha vez de dizer um frouxo  "bom dia".
Em troca, o senhor portageiro respondeu-me com um sorriso de orelha a orelha dizendo: "Ora bom dia menina! Como está? Bem? O dia nem por isso!"
Eu fiquei tão surpreendida que me atrapalhei. 
Queria responder-lhe de volta, trocar conversa mesmo que fizesse fila atrás de mim. Queria agradecer-lhe a gentileza mas só consegui sorrir. Sorrir muito muito. 

26 de novembro de 2014

Por estes dias…

O ginecologista congolês Denis Mukwege recebeu o Prémio Sakharov de Liberdade do Pensamento. Este senhor de 59 anos já tratou mais de 40 mil mulheres e crianças num hospital que ele próprio fundou há 15 anos para ajudar as mulheres e jovens vítimas de violação durante e após o conflito na República Democrática do Congo.

Por estes dias…
Temos o cante alentejano candidato a Património Cultural Imaterial da Humanidade!

Por estes dias…
A Lídia Jorge foi distinguida (com unanimidade) com o Prémio Luso Espanhol Arte e Cultura!

Por estes dias…
Assinalou-se o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres!

Por estes dias…
As notícias que vimos na TV foram que o Sócrates é o preso N.º 44 e que comeu um galão e um pão com manteiga ao pequeno-almoço!

É triste. Muito triste.

25 de novembro de 2014

Dia (em) cheio

Acorda. 
Pequeno-almoço.
Senta. Pedala. 
Bebe água. Pedala. 
Bebe água outra vez. 
Sai da bicicleta a arfar.
Banho. 
Roupa quentinha de andar por casa.
Montam a árvore de Natal. 
Tiram os enfeites do saco. 
Vêem se as luzes estão a funcionar. 
Põem os enfeites na árvore. 
Sorriem ao ver como está a ficar bonita. 
Almoçam. 
Arrumam a cozinha.
Escritório em casa. Mails. Telefonemas. 
Papéis para o arquivo. 
Ele sai para trabalhar. Ela fica. Mais mails. E ainda mais. 
Desliga o computador. Liga o mp3. 
Vai para o quarto dela. 
Delicia-se ao ver as roupinhas alinhadas no berço.
Abre um saco. 
Saem biberões. Fraldas de pano bordadas com carinho. 
Sapatinhos. Pantufas. 
Arruma tudo no lugar.
Ela chuta. Eu lancho.
Nova ronda. Abre um saco. 
Saem casaquinhos de lã macia. 
Outro e outro saco. 
Ele chega e sorri perante a confusão cor-de-rosa instalada no quarto dela.
Ela sorri e diz: "Só com o enxoval das primas, esta rapariga está vestida até aos 40 anos!"
Ele ajuda. 
Nos cabides pequeninos ele pendura uma peça e outra e outra.
Jantam. Arrumam a cozinha.
Nova ronda. Abre saco. Roupa para mais adiante. Volta a empacotar.
E assim até agora...

23:22 e as costas dela reclamam a valer.
Ela chuta. Eu bebo um copo de leite.
Preparar o almoço para amanhã levar.
Lavar os dentes. 
Passar creme na barriga e sussurrar palavras de carinho.
Um beijo terno e um "Boa noite" cheio de gratidão...

20 de novembro de 2014

Poupadinha!

São hilariantes as consultas com a minha médica!
Hoje o conselho foi: "Numa grávida, um iogurte líquido deve dar para três vezes!"

18 de novembro de 2014

O melhor fármaco que existe...

Hoje fiquei em casa. 
É uma das (poucas) vantagens de trabalhar de forma independente.
Apesar de ter bastantes coisas para pôr em ordem, a cabeça latejou até há pouco e só umas massagens e mimos do marido melhoraram a minha condição!
Já mais aliviada tenho estado no sofá com a cabeça dele encostada à minha barriga enquanto contemplamos das coisas mais maravilhosas da gravidez: sentir o bebé a mexer!

Ela tem estado activa há imenso tempo. 
O pai conta-lhe estórias, faz festas, dá beijinhos e a barriga dá saltos, muitos saltos! Conseguimos ver como ela muda de lugar.. ora para a esquerda... ora para a direita... um salto aqui... um pontapé acolá! 
Tem sido um festim! 

Apesar de poder tomar benuron, evito até à última e certo é que a plenitude destes momentos (já a três) foi mesmo o melhor medicamento que eu podia ter tomado hoje!
A isto juntou-se uma barrigada de riso quando me lembrei de um programa de TV onde várias mulheres não sabiam estar grávidas e pensado que se tratava de uma cólica malandra, acabavam com bebés recém-nascidos no fundo da sanita.....!!

17 de novembro de 2014

Nunca na vida ....

.... tive tanta vontade de levar uns bons pontapés!

Se não chutares de vez em quando, eles ficam preocupados!

Prematuridade

Sempre me considerei uma pessoa apressada e impaciente.
De há uns anos para cá esta tendência mudou e desde que engravidei sinto que as mudanças são ainda maiores. 
Dou comigo a ter um enorme prazer em desfrutar os momentos de forma muito mais pausada e serena.

Hoje, logo pela manhã, vi as notícias anunciando o Dia Mundial da Prematuridade. Recordei o tempo em que fui voluntária no Hospital da Estefânia e de um bebé prematuro que tive nas mãos. 
Era um de trigémeos e quase ninguém arriscava em lhe tocar. 

Eu, pelo contrário, sentia-me fascinada por aquele pequenino ser identificando-me com a sua pressa e impaciência para chegar ao mundo. 
A mão dele era do tamanho da ponta do meu polegar e apesar de algumas complicações, teve uma evolução favorável, tal como os casos que hoje reportava a televisão. Todos à excepção da pequena Margarida para cuja campanha solidária eu contribuí. 
Senti um aperto enorme e desliguei a TV.

Pedi à minha bebé que relaxe, que desfrute do casulo de Amor em que está transformada a minha barriga. 
Pedi-lhe tempo, paciência e serenidade. 
Mas a este dia, pedi que passe depressa, muito depressa.

Alimentar Afectos

Sexta e sábado à noitinha... 
A mesa posta. As velas acesas. 
Os pratos floridos e os copos vintage da Atlantis que raramente saem do armário.
Um par de horas na cozinha. 
O avental posto e uma mão cheia de temperos. 
O coração leve e sereno. 
A barriga já a ir contra o balcão. 
Ao longe o "Free Falling" do Tom Petty a soar no rádio.

Sexta...
Rever amigos de uma vida.
Abraçar as meninas que cresceram tanto.
Os nossos sorrisos cúmplices de quem diz "qualquer dia somos nós" quando uma delas entorna a água e puxa os fios da TV.
A alegria de receber tantos mimos para o sorriso que vai nascer.
Ouvir a mais velha pronunciar o nome da nossa bebé enquanto me faz festas na barriga.
Os nossos sorrisos cúmplices de quem diz "qualquer dia somos nós" quando uma delas entorna a sopa e se ri com ar maroto.
Uma despedida com a promessa de que é só um até já!

Sábado...
Íamos ser 4 mas numa surpresa... sentamo-nos 5.
Conversas e risos como se o tempo não passasse por nós.
O nosso entusiasmo a mostrar o quarto dela.
A alegria de um casamento que chegará para o ano!
Uma sobremesa bomba da qual só provei uma colherada.
A delícia que é ouvir os relatos das férias lá longe.
Uma despedida que dura uma hora enquanto continuamos a conversa no hall da entrada.

Domingo...
A mesa posta noutra casa.
Os sorrisos na porta da entrada quando a minha barriga entrou à minha frente.
Todas as tias maternas reunidas à mesa.
A avó que, não estando já entre nós, se fez presente.
Fotografias para a posteridade.

Assim foram estes dias. 
E como eu já uma vez disse: Quem disse que Amor não enche barriga?

15 de novembro de 2014

Inveja (boa)...

... só mesmo das pessoas que conseguem dormir de barriga para baixo e que podem comer queijo fresco!

13 de novembro de 2014

Prevenção?!

Uma medida tão estúpida quanto o anúncio da Vodafone..
Estes "amaricanos" não aprendem!
http://br.reuters.com/article/worldNews/idBRKCN0IV29P20141111

Gostei especialmente da parte em que o especialista diz que esta medida:
"Pode levar a menos ferimentos e talvez salvar vidas."

Oh sim.. isto descansa qualquer coração de mãe!

Ironia

.... Levar a vacina da gripe num dia e no dia seguinte ficar de molho com dores de garganta, dores de cabeça, dores do corpo e calafrios!

4 de novembro de 2014

Sai um bidón de vinagre!

As sessões sobre Direitos Humanos nas escolas continuam com saldo muito positivo mas há dias apanhei uma professora que não é deste mundo.
Estava numa turma de 4ºAno e eram uns doces aqueles miúdos. O tema era a Igualdade e a Não-Discriminação. Os garotos foram super colaborantes, interessados e a sessão estava a correr tão bem.
Às tantas, um pequenote que estava sentado no fundo da sala levantou o braço para também dar a sua achega. A professora revirou os olhos como quem diz: "Lá vem este outra vez!"
Só isso já me caiu tão mal.. mas o que ela disse a seguir, e considerando o contexto onde estávamos, deixou-me de queixo caído.

Tentando ignorar os olhos reprovadores da professora, dei a palavra ao garoto, que entusiasmado fez a sua partilha. Quando ele terminou tinha um sorriso triunfante no rosto e os olhinhos brilharam quando eu lhe agradeci a participação.  

A isto a professora retorquiu com ar desenxabido: "Mas esse não interessa muito.... é cigano!"

O QUÊ?? 

Podia tê-la rachado ao meio e culpar as hormonas mas limitei-me a pôr um sorriso amarelo e dizer um firme: "A opinião de TODOS conta.. até porque hoje falamos de IGUALDADE e NÃO-DISCRIMINAÇÃO!!" 

Ela manteve-se calada até ao fim da sessão mas não aprendeu nadinha.
Já à minha saída uma menina pediu se podia ir à casa-de-banho beber água. Aquela tótó respondeu à bruta e disse: "Água?? Devias ter bebido no intervalo que isto também já são direitos a mais!!" 

Oi?? Beber água... direitos a mais??
A sério???

Podia tê-la rachado ao meio (outra vez!!) mas fiz uma coisa, que sei ser MUITO anti-pedagógica. Que se lixe a ética que a miúda tinha sede bolas!!
Ignorei completamente a professora e disse à miúda: "Vai num pé e vem no outro!"
Ela correu feita uma seta e lá foi. Empatei um pouco à espera que ela voltasse para não ser recebida à má fila pela professora. Só então me despedi dos miúdos e lancei um sorriso amarelo à parvalhona a dizer tipo "Não penses que não topei a besta que és!!"

1 de novembro de 2014

Medos

Tive há dias o segundo momento em que não gostei especialmente de estar grávida. Não no sentido de não querer estar, apenas a sentir que as mudanças no corpo são de tal ordem profundas que não controlo mesmo nada do que me está a acontecer. 
E isso... assusta-me.

Têm sido noites desesperadas com dor ciática e sem nenhuma posição para dormir. Um cansaço imenso, um corpo e alma a pedirem repouso e em troca: dor, incómodo, dificuldade em respirar, tensão baixa, um relógio a marcar mais um minuto, e outro e outro...

Uma madrugada, já desesperada com a dor, e atormentada pela culpa, levei as mãos à barriga e vi-me, num lamento, a pedir desculpa a este pequeno ser que cresce dentro de mim.

Faltam três meses. 
A barriga vai crescer (ainda) mais.
O espaço lá dentro será mais e mais pequenino. 
A probabilidade da ciática melhorar é pequena.
A azia será fiel companheira.
Não ter posição para dormir será rotina.
As idas nocturnas à casa-de-banho vão aumentar (ainda) mais.
A ansiedade tenderá a crescer. 

E isso... assusta-me porque creio que tudo isto, quando comparado à missão maior que me espera, tem uma importância do tamanho de uma cabeça de alfinete.